sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Homofobia começa em casa




Violência

Levantamento feito por ONG mostra que 22% dos casos de agressão acontecem em ambiente familiar

Na noite do primeiro dia do ano, um estudante universitário de 20 anos, da região do Vale do Aço, foi atacado com socos e golpes de cinto em seu rosto. O agressor foi sua própria mãe, ao descobrir que o rapaz era homossexual. "Ela chorou e disse que eu tinha destruído a vida dela. Ficou com uma ira que eu nunca vi e disse que eu ia morrer", contou o aluno de administração, que acaba de entrar para uma estatística de preconceito e intolerância.


Os casos de violência motivados pela orientação sexual de um membro da família não são raros. Um levantamento feito pelo Centro de Referência da Cidadania LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais Travestis e Transexuais) do Rio de Janeiro mostra que grande parte dos homossexuais que sofrem agressão é vitimada no ambiente familiar. Dos 5.070 atendimentos realizados pela entidade, entre julho de 2010 e julho de 2011, 22,4% se tratavam de agressões sofridas em casa, sendo pais, mães e outros parentes os principais autores dos ataques.


Em Minas Gerais, não há estatísticas sobre o assunto, mas o coordenador do Centro de Referência pelos Direitos Humanos e Cidadania LGBT da capital, Carlos Magno, avalia que o dado é preocupante. "É preciso ter uma ação urgente para mudar isso", afirmou.

Acostumada a atender homossexuais em situação de vulnerabilidade, a psicóloga Dalcira Ferrão explica que uma agressão homofóbica sofrida dentro de casa pode ter consequências ainda mais graves para a vítima. "A pessoa fica sujeita a depressão, isolamento social e até suicídio", explicou.


A primeira atitude tomada pelo jovem universitário depois de apanhar da mãe foi sair de casa. "Peguei R$ 100 emprestados com minha irmã e voltei para Belo Horizonte", contou. Ele disse que não quis acionar a polícia e nem foi ao médico, apesar dos hematomas que teriam ficado no peito e no rosto. A mãe, segundo ele, tomou as chaves do apartamento onde ele morava na capital e os cartões de crédito. "Foi uma humilhação emocional grande", disse o estudante.


Procurada pela reportagem, a mãe não quis comentar a versão do filho. "Não tenho nada contra a escolha. Mas aceitar (a homossexualidade do filho) depende da minha religião", disse ela.


O episódio familiar é um dos lados de uma realidade de intolerância presente em Minas Gerais. Balanço do Grupo Gay da Bahia (GGB) revela aumento no número de assassinatos de homossexuais no Estado: 18 gays foram mortos em 2010, enquanto 21 foram assassinados no ano passado. O aumento foi de 16%. "A homofobia é tão impregnada que há mães que preferem que o filho seja bandido ou morra a ser gay", avalia o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB. O levantamento refere-se apenas a assassinatos.

Amigos organizam festa em apoio a jovem


Foi no boca a boca que a agressão homofóbica sofrida pelo estudante virou assunto na capital. O fato chegou ao conhecimento de amigos de amigos e rapidamente uma rede de ajuda foi formada em Belo Horizonte. Através das redes sociais, uma festa foi organizada para arrecadar fundos em apoio ao universitário, que começou ontem em um novo emprego.


"Fiquei chocado quando soube e pensei em uma forma de conseguir dinheiro para ajudar. Disseram que ele não tinha nem lugar para morar", disse o jornalista Rafael Sandim, 21, organizador da festa.


O evento acontece hoje, a partir das 23h. Metade do valor arrecadado na portaria será destinado ao estudante. O local: avenida Getúlio Vargas, 1.423, Savassi. Entrada a R$ 15. (RRo)

PRECONCEITO
Minas é o quarto Estado em número de homicídios
Os 21 gays assassinados em 2011 em Minas deixam o Estado no quarto lugar entre os que mais registram mortes por atos homofóbicos. Os homicídios por intolerância ainda são em maior número na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. As estatísticas podem ser ainda maiores, já que o Grupo Gay da Bahia (GGB), entidade que realiza o levantamento anual, registra apenas casos que foram divulgados pela imprensa.


O bom relacionamento entre pais e filhos homossexuais é tido como fundamental para evitar atos de violência dentro da família, segundo a integrante do grupo Mães pela Igualdade Jiçara Martins, 61. O grupo é composto por mães de gays que oferecem apoio aos pais que descobrem a homossexualidade dos filhos. "Acho que deixar a verdade prevalecer é sempre a melhor opção. Tem casos de pais que, ao saber que o filho é gay, têm reação momentânea e explodem, mas a gente tenta ajudar", disse. Além da violência física, ela relata casos comuns de agressões verbais. "Tem a violência velada, comentários, olhares. Isso pode levar uma pessoa ao suicídio", afirmou.


O maior entrave na aceitação familiar, segundo Jiçara, é o medo que os pais têm de assumir que o filho é homossexual. "Tirar os pais do armário é o mais complicado".(RRo)

Contato com o Grupo SHAMA
3210-2124

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MINIENTREVISTA COM O RAPAZ
Agredido pela mãe

"Ela me mandou ler a Bíblia em voz alta"

Por que aconteceu a agressão?

Minha mãe descobriu que eu sou gay, acabou me espancando e me colocando para fora de casa.


Como ela descobriu que você é homossexual?

Eu estava em casa usando a internet. Fui atender o telefone e, quando voltei, minha mãe tinha mexido no meu computador. Ela tinha visto as mensagens que troquei com meu atual namorado.


Como ela te agrediu?

Me bateu com um soco na cara e com o cinto no meu rosto. Tentou me enforcar e fiquei horas sem água, sem comida e sem poder ir ao banheiro.


Ela trancou você em casa?

Não, mas me impediu de sair. Ficava me vigiando o tempo todo.


O que ela lhe disse?

Ela me mandou ler a Bíblia em voz alta para ela ouvir, me humilhou, me xingou, disse que eu ia morrer e que só sairia da casa dela para o cemitério. (RRo)

Fato ocorrido em Belo Horizonte, mas pode acontecer com você ou conhecido.
Denuncie atos de homofobia.

DISQUE 100

Fonte: O Tempo

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