terça-feira, 17 de março de 2009

A Comunidade GLBT de Uberlândia: Uma perspectiva a partir da Parada do Orgulho Gay de 2007

A Pesquisa

Introdução

Esta obra é uma apresentação sintética dos principais resultados obtidos em uma pesquisa de levantamento realizada com participantes da VI Parada do Orgulho GLBT de Uberlândia, ocorrida no dia 05/08 de 2007.

A pesquisa foi coordenada por três professores da Universidade Federal de Uberlândia, pertecentes aos Institutos de Piscologia e Economia, e, parceria com a Pró - Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis da mesma universidade, e com a ONG SHAMA, organizadora da Parada.

Esta investigação ocorreu vinculada a um projeto de extensão universitária, cujo produto final constitui - se no presente texto, o qual será distribuído para diversos segmentos e grupamentos sociais que possam ter interesse no mesmo, em especial àqueles que se dedicam ao estudo ou intervenção junto às populações homossexuais, ou àqueles responsáveis pela socialização e redução do preconceito, como é o caso de instituições de ensino e cultura.

A proposta de realização da pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia, sob o protocolo de registro 174/07, sendo aprovado de acordo com o parecer final n°251/07.

A pesquisa teve como objetivo geral traçar um perfil da comunidade GLBT(gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) de Uberlândia, a partir dos participantes da Parada, em seus aspectos sociais, econômicos, identitários e culturais; bem como conhecer aspectos da realidade e das vivências dos membros desta comunidade, visando identificar problemas e subsidiar a implementação de ações junto aos órgãos responsáveis.

Pesquisa de cunho e teor semelhante têm sido realizadas em diversas cidades do Brasil, em especial nas capitais, e podem ajudar a conhecer melhor o público que frequenta as Paradas do Orgulho GLBT, além de contribuir para desmistificação do mesmo, principalmente para setores mais conservadores de nossa sociedade.

Assim, justifica - se a importância de trabalhos como este, dado que na cultura ocidental dos últimos séculos, os discursos sobre a homossexualidade estiveram, na maior partes das vezes, associados ao desvio, à margem, ao pecado, á imoralidade e á doença, motivando intervenções da igreja, da ciência, e da polícia para o seu devido controle (Fry e MacRae, 1985).

No constesto brasileiro atual, apesar do Conselho Federal de Piscologia, do Conselho Federal de Medicina e da própria Organização Mundial de Saúde não considerarem a homossexualidade como uma doença, fortes resquícios daquela mentalidade ainda se fazem presentes, causando suspeitas e estranhamento em relação àqueles que se definem publicamente como homossexuais.

Tal suspeita está associada a um forte estigma que tem motivado diversas ações de preconceito e discriminação, que por vezes assume expressões de extrema violência. Segundo pesquisa realizada no Rio de Janeiro, em 2002, junto a 461 homossexuais, 60% dos entrevistados já tinham sofrido violência por questões de orientação sexual, envolvendo agressão física, chantagem, extorsão, ameaças verbais, xingamentos e humilhação pública (Conselho Nacional de Combate á Discriminação,2004).

Em decorrência da discriminação histórica dos homossexuais, foi necessária uma reconstrução de sua identidade social por meio da organização de um movimento social em defesa dos direitos desta população. O movimento homossexual no Brasil tem sua origem no final da década de 70 e início da década de 80, especialmente noeixo Rio - São Paulo (McRae, 1990; Green, 2000). Após certa estagnação na organização do movimento durante a década de 80, ele volta a florescer em meados da década de 90, pressionado pela epidemia de AIDS e apoiado por financiamentos daí decorrentes, contando atualmente com mais de 140 grupos organizados no país (Facchini, 2004).
Entre algumas das conquistas deste movimento estão:
A) Criação dos Centros de Defesa do Homossexual;
B) Dia de Combate à Homofobia;
C) Leis de combate à discriminação por orientação sexual;
D) Reconhecimento da parceria entre homossexuais para fins de adoção;
E) Para a legalização de entrangeiros no Brasil
F) Para recebimento de pensão do funcionalismo público.
Estas mudanças não ocorrerem de forma homogênea por todo o país, sendo condicionadas por fatores locais uqe determinam sua possibilidade de ocorrência (Conselho Nacional de Combate à Discriminação, 2004; Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, 2007).

No bojo destas conquistas, as Paradas do Orgulho Gay têm se constituído numa manifestação importante de afirmação da identidade homossexual, resultado de uma articulação do movimento social organizado. Apesar de existirem há muitos anos em várias cidades do mundo, elas têm ganhado força no Brasil apenas nos últimos dez anos, sendo realizadas em vários cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, para citarmos apenas as maiores delas. Atualmente, São Paulo possui a maior Parada Gay do mundo comc erca de 3,5 milhões de participantes.

A Parada Gay, como qualquer fenômeno social complexo, sintetiza diversos processos culturais e põe em evidência diferentes atores. Apesar de uma suposta homogeneidade da população gay difundida pela ,ídia tradicional, as Paradas mostram a diversidade desta população, rica em tipos sociais, como "modernos", "barbies", "ursos", travestis, transexuais, drag queens (Trindade, 2004), além da presença de pessoas que se definem como heterossexuais (Junge, 2004).

Em decorrência de seu poder agregador desta população, de sua legitimação pública da experiência homossexual, e de sua contribuição para a transformação do imaginário social a respeito da homossexualidade, as Paradas Gays têm sido apoiadas pelo governo federal como uma forma de promover a cidadania desta população marginilizada, bem como na criação de um contexto mais favorável à prevenção do Hiv.

Além de uma menifestação de luta pela cidadania da população GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros), as Paradas também atraem a atenção do setor de entretenimento e turismo, especialmente, nas grandes cidades (Chicochetta e Avena 2006, 2006), complexificando ainda mais o entendimento deste fenômeno.

No contexto mineiro, uma pesquisa semelhante realizada pela UFMG (Prado, 2006) aponta a percepção dos participantes que a Parada, além de contribuir para o aumento da visibilidade e discussão das questões pertinentes á temática homossexual, constitui um exemplo real e bem - sucedido em prol da qualificação da discussão e elaboração de ações e de políticas públicas.
A cidade de Uberlândia possui um conjunto de locais de entretenimento e aglutinação homossexual, bem como uma organização não - governamental de luta pelos direitos desta população, o Grupo SHAMA. Já foram realizadas na cidade cinco Paradas Gays entre os anos de 2002 e 2006. A última Parada realizada no município atraiu um público de aproximadamente 20 mil pessoas segundo seus organizadores (Grupo SHAMA, comunicação pesosal) e Polícia Militar - MG. Há, contudo, uma escassez de estudos sobre a população GLBT local, sendo raras as iniciativas acadêmicas sobre esta temática.

Assim, reconhecendo a crescente mobilização deste movimento na cidade, a necessidade de constuir propostas que visem diminuir o preconceito e a discriminação a esta população, bem como a ausência de estudos sobre esta temática no contexto de Uberlândia, este texto poderá fornecer subsídios para políticas públicas direcionadas a esta população, bem como fomentar o debate acadêmico em torno das questões da população GLBT.

A universidade cumpre assim seu papel social no combate à discriminação e à homofobia, bem como forma novos profissionais sensíveis às questões desta população, contribuindo para o respeito e a dignidade dos homossexuais na cidade e para a construção de uma sociedade onde estes sejam reconhecidos em seus direitos e aspirações.


Os Resultados
Perfil Sócio - Econômico
Com o objetivo de conhecer um pouco melhor quem são as pessoas que participam da Parada GLBT de Uberlândia, são apresentados a seguir os dados referentes à faixa etária, gênero e orientação sexual, nível de instrução, renda média, auto - classificação étnico - racial, religião e origem domiciliar dos sujeitos entrevistados.
Faixa Etária

Segundo a Pesquisa a grande maioria (51,3%) dos participantes da pesquisa presentes na Parada GLBT de Uberlândia são jovens (18 a 24anos), sendo que o percentual de participantes na faixa entre 25 e 29 anos e na faixa de 30 a 39 anos é o mesmo (19%), descrecendo a partir daí: 7,2% entre 40 e 49 anos e 3,5% com 50 anos ou mais.

Orientação Sexual
Em relação ao g~enero, observa - se um número maior de participantes do sexo masculino (59,5%) em relação ao sexo feminino (40,5%).

Considerando - se a orientação sexual relatada pelos participantes, o número maior é de pessoas que se auto - intitulam como heterossexuais (33,1%), seguindo pelos gays (21%), lésbicas (14,5%) e homossexuais (14,1%). Também houveram auto - definições como bissexuais (10%), entendidos (4,7%), travestis (2,4%) e transexuais (0,2%).

Encontramos ainda dados sobre: Grau de Instrução, Renda, Auto - classificação Étnico - racial.

Religião

Em relação a este item, verifica - se que a maioria dos entrevistados declara uma pertença à religião católica (37,7%), embora não seja possível determinar se estes são praticantes ou não. Também foi bastante significativo o número de pesquisados que declarou não possuir nenhuma religião (27,2%). Surpreende, ainda, o fato de que o número de espíritas e/ou Kardecistas (18,1%) seja superior ao de evangélicos (10,1%), dado que as pesquisas divulgadas a este respeito tendem a apresentar na população em geral uma inversão neste sentido, com o número de evangélicos bastante superior ao de espíritas. Quanto aos frequentadores da umbanda e candomblé, agrupando - se ambos, obtém - se um percentual de apenas 4,6% dos entrevistados, havendo ainda 2,2% que declaram possuir outras religiões.

Origem Domiciliar

Considerando - se que a pesquisa foi realizada durante a Parada GLBT de Uberlândia, a qual é uma cidade que atrai moradores das localidades próximas para diversos eventos festivos, além de outros, como compras, turismo, etc., houve o interesse dos pesquisadores em investigar a procedência geográfica dos participantes, sendo identificaddos que quase 80% são residentes em Uberlândia e os demais oriundos de cidades da região.
Origem dos Participantes
Uberlândia : 77,9%
Fora de Uberlândia: 22,1%
Participação Anterior em Parada GLBT
Sim: 62,9%
Não:37,1%
Encontra -se no manual todos estes dados de maneira detalhada.
Conjugalidade e Parentalidade

Situação Afetiva Atual dos Participantes

Os dados da pesquisa indicam que grande parte dos entrevistados encontrava - se, naquele momento, em algum tipo de relacionamento afetivo - sexual: "ficando" (18,2%), namorando (23,1%) ou casado (19,1%). A soma destas três categorias (60,4%) mostra - se bastante superior à dos que afirmaram estarem sozinhos no momento (39,2%).


A pesquisa encontrada na Sede Social do Grupo SHAMA em forma de manual traz detalhadamene a Situação Afetiva Atual por Orientação Sexual e Gênero, de forma detalhada.

Ainda Encontramos: Situação de Residência, Parentalidade, detalhadamente.



Sexualidade e Saúde
Esta seção apresenta os resultados das questões relativas à sexualidadee saúde, especificamente, ao assumir a sexualidade no meio social, à realização do HIV, ao uso de preservativos, ao uso de hormônio e à frequência de consultas ginecológicas.
Quanto à revelação de sua orientação sexual, os dados mostram um equilíbrio entre os grupos por orientação sexual e gênero, não havendo diferenças significativas entre estes. Assumir a própria sexualidade é um ato mais frequentemente realizado para os amigos em todos os grupos analisados, tendo já sido realizado por no mínimo 85% dos entrevistados, como no caso das mulheres bissexuais, e no máximo por 96% , no caso dos homens homossexuais.
Os familiares são o segundo grupo para os quais os entrevistados mais assumem sua sexualidade, em um percentual de 90,2% das mulheres homossexuais, 84,6% das transexuais e 84,4% dos homens homossexuais. Apesar da família ser o segundo grupo mais importante para os bissexuais, os percentuais são bem inferiores quando comparado com os homossexuais e transexuais, chegando a apenas 61,9% no caso das mulheres bissexuais e transexuais e 64,3% entre os homens bissexuais. Dessa forma, a bissexualidade parece ganhar visibilidade no meio social.
Em um terceiro patamar, encontram - se os colegas de trabalho de escola/faculdade e os profissionais de saúde. Com um dos menores índices sobre para quem assumem sua orientação sexual, aparecem os profissionais de saúde, o que deixa a margem para questionarmos se isto ocorre por vergonha dos entrevistados ou por um despreparo destes profissionais em lidar com este público, ocasionando receio de revelarem este aspecto íntimo. Por fim, com uma taxa quase insignificante aparece a categoria "outras pessoas".
De forma geral, os entrevistados apresentam percentuais mínimos próximos de 50%. Exeção a este padrão são as mulheres bissexuais, as quais apresentam, comparativamente, os menores percentuais de respostas afirmativas para esta pergunta, chegando a apenas 42,9% no caso de colegas de trabalho.
Mais dados no manual impresso.
Discriminação e Violência
Esta seção apresenta os rsultados das questões referentes às vivências de discriminação e as formas de violência sofridas pelos entrevistados em decorrência de sua sexualidade, sendo investigados ainda o local de ocorrência, os autores e o possível relato das agressões.
Em relação a situação de discriminação, as mulheres(75,6%) e homens (72,3%) homossexuais são os grupos que mais relatam ter sofrido atos discriminatórios, seguidos das transexuais (69,2%) e homens bissexuais (64,3%), sendo as mulheres bissexuais (52,4%) as que relatam menos discriminação.
Entre as principais formas de discriminação relatadas por eles estão; ter sido excluído ou marginilizado de grupos de amigos ou zininhos (33,9%), ter sido marginilizado por professores ou colegas escola/faculdade (33%) e ter sido excluído ou marginilizado em ambiente familiar (29,8%). Em segundo patamar, está o ambiente religioso (24,2%). E entre os ambientes que tiveram menor relatos de discriminação estão o comércio e locais de lazer (17,9%), as delegacias de polícia (15,5%), o emprego (15,3%), e o contexto de sáude, seja em situações de doar sangue (13,6%) ou na relação com profissionais dos serviçoes de saúde (10,6%). Desta forma, as pessoas do convívio íntimo (ambiente familiar e amigos/vizinhos) e do contexto escolar consistem fonte importante de discriminação para os participantes da pesquisa.
Analisando comparaivamente os grupos, algumas especifidades significativas emergem:
A) Os homens bissexuais (46,4%) e homossexuais (39,3%) relatam maior discriminação no contexto escolar que as mulheres, sejam homossexuais (25%) ou bissexuais (14,3%), e as transexuais (15,4%). Esta discriminação na escola parece estar pautada por questões de gênero, porém, é preciso outros mestudos mais aprofundados para melhor entender estes resultados;
B) As mulheres bissexuais, de forma geral, apresentam porcentagens menores de discriminação relatada quando comparadas aos outros grupos;
C) O comércio e locais de lazer discriminam mais as transexuais (38,5%) do que os outros grupos;
D) O ambiente religioso é fonte de discriminação principalmente para homossexuais, sejam homens (27,9%) ou mulheres (24,4%);
E) A discriminação presente em situações de doar sangue atinge principalmente homens homossexuais (18,9%) e transexuais (23,1%);
F) Com exceção das mulheres bissexuais, que apresentam menores porcentagens de discriminação relatada, o contexto de trabalho/emprego e os amigos e vizinhos parecem discriminar de forma semelhante os diferentes grupos.
Em relação às agressões sofridas, 64,5% dos entrevistados relataram játerem vivido algum tipo de agressão. Apesar de nem todos terem sofrido alguma forma de agressão, muitas vezes, uma mesma pessoa passou por diversos tipos de agressão. O grupo mais atingido foi o das transexuais, no qual 76,9% das participantes relataram ter sofrido agressões, e os menos atingido foi o das mulheres bissexuais, no qual 56,5% das mulheres homossexuais responderam positivamente a esta pergunta.
Sociabilidade e Turismo Associados à Parada
Esta seção apresenta as respostas às pergubtas que buscaram identificar outras formas de sociabilidade realizadas pelos entrevistados que residiam fora de Uberlândia durante a realização da Parada do Orgulho Gay 2007.
Em relação aos serviços utilizados durante a estadia em Uberlândia, observamos que 53,5% dos entrevistados utilizaram o comércio local para compras, 56,9% para a utilização de restaurantes e 28,7% se hospedaram em hotéis.
A atividade de lazer mais comum entre os entrevistados foi a utilização de boates (56,5%), seguido por bares (43,5%) e festas particulares (28,2%).
A grande maioria dos entrevistados veio à cidade para prestigiar o evento da parada (84,3%) seguido de longe pelos itens trabalho (8,8%), visita a amigos e parentes (3,9%) e lazer (2,9%).
Maiores detalhes da Pesquisa encontre no Manual impresso encontrado na SHAMA, Associação Homossexual de Ajuda Mutua.
Endereço: Av, Rio Branco n°750 - Centro
Telefone: 34 - 3210 -2124
Pablo Brandão


Um comentário:

  1. É de extrema importância o esmeroso trabalho realizado pelo GRUPO SHAMA. O que for necessário, ao meu alcance, para que o grupo siga desbravando as agruras do preconceito e da intolerância, não hesite em contar com o meu auxílio.

    Monsieur Sabino, ator.

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