“Sem bandeiras nem passeatas”. Esta é uma das retrancas da reportagem de capa da revista Veja, que chega às bancas na próxima quarta-feira, 12, de todo o Brasil. Em São Paulo, ela já ocupa as bancas neste final de semana com a chamada “Ser Jovem e Gay: a vida sem dramas”. A reportagem mostra os conflitos de jovens que – na flor da idade – já resolveram a questão da homossexualidade, e vivem em harmonia dentro de casa.
No entanto, a reportagem mostra um valor liberal da cidadania, na qual cada um age de forma individualista – neste caso na homossexualidade – e, assim, modifica (sem movimentos sociais organizados) a sociedade.
“A justificação da existência do estado não se encontra primariamente na proteção de direitos subjetivos privados iguais, mas sim na garantia de um processo inclusivo de formação da opinião e da vontade, em que cidadãos livres e iguais se entendem sobre os fins e as normas que correspondam ao interesse comum de todos. Com isso, exige-se do cidadão republicano mais do que a orientação segundo os seus respectivos interesses privados”, define o sociólogo e filósofo alemão Jürgen Habermas, 81, o conceito de cidadania liberal que, na realidade, considera o indivíduo apenas como "consumidor" e não como cidadão.
No entanto, a reportagem mostra um valor liberal da cidadania, na qual cada um age de forma individualista – neste caso na homossexualidade – e, assim, modifica (sem movimentos sociais organizados) a sociedade.
“A justificação da existência do estado não se encontra primariamente na proteção de direitos subjetivos privados iguais, mas sim na garantia de um processo inclusivo de formação da opinião e da vontade, em que cidadãos livres e iguais se entendem sobre os fins e as normas que correspondam ao interesse comum de todos. Com isso, exige-se do cidadão republicano mais do que a orientação segundo os seus respectivos interesses privados”, define o sociólogo e filósofo alemão Jürgen Habermas, 81, o conceito de cidadania liberal que, na realidade, considera o indivíduo apenas como "consumidor" e não como cidadão.
Este tipo de cobertura jornalística da revista Veja, que se mostra extremamente conservadora e liberal, aparece bem às vésperas da realização da 1ª Marcha Nacional LGBT, que acontece em Brasília entre os dias 17 e 19 deste mês, culminando com o 1º Grito Nacional pela Cidadania LGBT e Contra a Homofobia, marcado para às 9h do dia 19, na Esplanada dos Ministérios.
Nas entrelinhas, a revista Veja tenta desmobilizar e desmerecer a mobilização social da Marcha LGBT – na qual a militância de todos os estados e não-militantes rumam a Brasília para pressionar o Congresso Nacional e o Senado para a aprovação de leis que deem garantias aos homossexuais brasileiros – como a união civil (que está no Congresso desde 1995) e a aprovação da PLC-122/06 (que pune a homofobia no país). Tudo isso da forma mais perversa e sorrateira como age a direita conservadora brasileira. Este pensamento está no seguinte trecho apresentado pela reportagem:
“Os jovens que aparecem nas páginas desta reportagem, que em nenhum instante cogitaram esconder o nome ou o rosto, são o retrato de uma geração para a qual não faz mais sentido enfurnar-se em boates GLS (sigla para gays, lésbicas e simpatizantes) - muito menos juntar-se a organizações de defesa de uma causa que, na realidade, não veem mais como sua”.
Tendenciosa de direita – Neste sentido, a Veja tenta desqualificar o movimento LGBT brasileiro como se os homossexuais tivessem direitos civis resguardados pelo Estado. Logo, mostra a postura tendenciosa da publicação. Como lobo em pele de cordeiro, a Veja expõe a classe média ou alta brasileira na reportagem. E esta é a principal característica da chamada "cidadania liberal", pois ela considera o cidadão como consumidor e não como portador de direitos. Perversamente, a Veja esconde as chagas reais nas quais vivem os homossexuais desse Brasil tupiniquim. Esconde que um LGBT é assassinado a cada dois dias, como relata o Grupo Gay da Bahia (GGB), anualmente, no Relatório Anual da Homofobia no Brasil.
A reportagem também expõe a despolitização das paradas gays no país. “Na última parada gay de São Paulo, a maior do mundo, a esmagadora maioria dos participantes até 18 anos diz estar ali apenas para "se divertir e paquerar" (na faixa dos 30 o objetivo número 1 é "militar"). A questão central é que eles simplesmente deixaram de se entender como um grupo”, diz a reportagem.
É fato que as paradas tiveram a função política de colocar os LGBT nas ruas. Tanto é que nas primeiras manifestações em São Paulo, os gatos pingados tinham a possibilidade de estarem ali resguardados por máscaras, que eram distribuídas ao longo da passeata àqueles que não poderiam mostrar o rosto. E é exatamente este tipo de homossexual – o que se esconde da realidade dos homossexuais e não se preocupa com a coletividade dos direitos LGBT – que a Veja mostra.
"Nunca fiz o tipo masculino nem quis chocar ninguém com cenas de homossexualidade. Basta que esteja em paz e feliz com a minha opção", diz a lésbica e estudante paulista Harumi Nakasone, 20, à revista. A cilada tendenciosa da Veja continua quando cita “pesquisas científicas” de forma infame, sem argumentos científicos e sem pesquisas atuais.
Segundo a publicação, “uma comparação entre duas pesquisas nacionais, distantes quase duas décadas no tempo, dá uma ideia do avanço quanto à aceitação dos homossexuais no país. Em 1993, uma aferição do Ibope cravou um número assustador: quase 60% dos brasileiros assumiam, sem rodeios, rejeitar os gays. Hoje, o mesmo porcentual declara achar a homossexualidade "natural", segundo um novo levantamento com 1.500 adolescentes de onze regiões metropolitanas, encabeçado pelo instituto TNS Research International”
No entanto, a Veja não considera a pesquisa da Fundação Perseu Abramo. Realizada no ano passado, ela apontou que 92% dos brasileiros têm preconceito com LGBT.
http://www.mundomais.com.br/exibemateria2.php?idmateria=209 Enfim, a revista cita a pesquisa de 1993 e não cita nenhuma pesquisa realizada na atualidade para respaldar seus argumentos.
Comparação aberrante – Para mostrar que os LGBT do Brasil não precisam de mobilização social, a revista cita países europeus, que têm salvaguarda do Estado em relação aos homossexuais, e com Índice de Desenvolvimento Humando (IDH) elevado. “Foi o que já ocorreu em países de alto IDH, como Holanda, Bélgica e Dinamarca. Lá, isso se refletiu em avanços na legislação: casamentos gays e adoção de crianças por parte desses casais são aceitos há anos. No Brasil, onde não há leis nacionais como essas, a apreciação fica sujeita a cada tribunal”, diz a Veja no seu processo de articulação de direita para mostrar que os homossexuais brasileiros vivem numa boa.
Para piorar a situação, a Veja diz que o Brasil já sabe se posicionar e criticar a homofobia. Para isso, cita os militares Laci Marinho Araújo e Fernando Machado, que são perseguidos pelo Exército por sua homossexualidade. No mesmo parágrafo, para provar essa “tolerância brasileira”, cita as críticas feitas à homofobia ao BBB Marcelo Dourado. Só não diz que os militares gays até hoje ralam para terem seus direitos adquiridos e que a homofobia de Marcelo Dourado foi premiada com R$ 1,5 milhão.
Ao longo da reportagem, a Veja mostra personalidades que assumiram a homossexualidade, como o cantor Ricky Martin e o jogador de rúgbi galês Gareth Thomas. Em síntese, à primeira vista, a revista mostra uma boa reportagem para e sobre os homossexuais. Porém, da forma que conduz a reportagem – e no momento na qual ele é divulgada – só desmerece o movimento LGBT brasileiro. É uma forma de “cala a boca”, que está tudo certo, tudo funciona e ninguém precisa de gritaria militante para pedir direitos. Diga-se de passagem, direitos homossexuais que a Veja sequer deu destaque na sua capa! Veja bem, mas veja com outros olhos!
Para ler a reportagem na íntegra, clique no link abaixo.
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